AVALANCHE – Marcelo Yuka
“Marcelo Yuka, letrista-ativista, não está mais fisicamente entre nós, mas, mesmo tendo morrido jovem, aos 53 anos de idade (18/01/2019), ele fica imortalizado pela ideologia que defendeu na música e na vida.
Yuka é uma estrela, músico de canções que ainda estão vivas. Um letrista de mão cheia, sempre muito crítico, soube usar as palavras necessárias para propagar um pensamento humanista num grito por igualdade e justiça social. Escreveu poesias que são cantadas como uma crônica interminável da cidade maravilhosa, que concentra riquezas nas mãos de poucos, no Estado-violência do Rio de Janeiro. Yuka sofreu um desastre em 2000 e sobreviveu: levou 9 tiros, ao cruzar casualmente um assalto, que o deixaram paraplégico, mas mais ativo como um lutador indignado contra a estupidez humana. Um ano antes desta tragédia (1999) escreveu os versos: ‘A minha alma tá armada / E apontada para a cara / Do sossego / Pois paz sem voz / Paz sem voz / Não é paz / É medo’ que traduzem a angústia de viver diante da bomba-relógio que é a violência urbana. Esses versos são da música ‘Minha alma (A paz que eu não quero)’ composta com seus parceiros do grupo Rappa, o qual ele foi fundador.
Sua obra permanece na música, na poesia e na imagem. Yuka extravasava seus gestos onde podia e nos seus últimos anos, muitas vezes no leito do hospital, pintava em qualquer suporte e técnica que tinha acesso. Pedia papel, tela, madeira, tinta, pincel, lápis e caneta. Sua produção era compulsiva, expondo a revolta que ele carregava sobre a cadeira de rodas. Suas pinturas e desenhos inéditos, que me foram apresentados através da ponte feita por seu empresário/produtor e amigo Geraldinho Magalhães, tem amor e tem ódio, tem critica social e poesia. Tem suas vísceras. Marcelo Yuka era um vulcão e um querido amigo que não largava a nossa mão nunca.
Yuka me pediu para encerrar o projeto Avalanche porque ele queria produzir mais e mais...Não tinha, ou melhor, não tem fim. Nunca terá fim. Um inquieto que me instigava a acreditar em seus sonhos.
Escrevo com lágrimas e saudades, mas como disse Borges: ‘sentir saudades é sentir a presença’.”
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Batman Zavareze, curador do projeto AVALANCHE, parte do @riofestiv.al